Agora Escolha, parte II

De volta para a segunda parte do Você Decide.

Na primeira parte desta dicotomia, sugeri aquela que é, a meu ver, a abordagem mais correcta e segura da questão que antes descrevi.  Por exemplo:

Ele não lhe telefona? Aqui fica, desde já, uma informação relevante a ter em conta: “Os homens sabem utilizar o telefone”! Assim, depois da leitura do segundo capítulo do livro que vos sugeri anteriormente e que, repito, todas as raparigas deviam ter em casa a partir do momento em que iniciam a sua vida amorosa, ficamos a saber e a não ter como evitar encarar que:

– Se ele não lhe telefonar é porque não pensa em si;

– Se ele lhe criar expectativas e depois não cumprir a palavra no que se refere a pequenas coisas, vai fazer o mesmo quando se tratar de algo mais importante. Esteja atenta a isso e tenha consciência de que ele não tem quaisquer problemas em desiludi-la; (…)

– Você merece a porcaria de um telefonema ❞

entre outras coisas.
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Nota da autora deste post, para si:
Pela sua saúde, pelo seu bem-estar, seja objectiva. É o que eu me esforço muitas vezes por fazer, também porque já houve alturas em que tive dificuldade em fazê-lo e, caramba, como isso me custou tempo, saúde, energia… (para depois, passada a tempestade, pensar “Para quê?? Por quem?? Estaria louca??” E vale a pena? Não.)
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Mas, bom, façamos agora uma pequena deambulação que nos levará, no final, à mesma conclusão – lembrem-se disto! Deambulação esta que, aos olhos de um livro tão pragmático como o anterior, poderia levar de imediato o rótulo de “mito urbano”, xaropada, ou “conta-me outra que essa está gasta”. Aliás, basta espreitar de que forma é abordado o tema “compromissofobia”…

Mas eis que pego num livrinho, indicado por uma amiga psicóloga, cuja capa arrepia e alarma todo e qualquer conceito estético, pudor intelectual ou último reduto de cepticismo, e o viro ao contrário para ler, na contracapa: “Um dia ele disse que éramos perfeitos um para o outro. No dia seguinte já não estávamos juntos. O que aconteceu?”

Passo os olhos a correr pela sinopse e vejo em baixo que “Steven Carter e Julia Sokol  têm sido considerados as máximas autoridades na temática do medo do compromisso” e que “aparecem frequentemente em programas radiofónicos e televisivos, tais como The Oprah Winfrey Show, e colaboram em inúmeras revistas”.

Ok, vou dar uma segunda hipótese ao livro que tem por título “Homens Incapazes de Amar – Como reconhecer um homem com a fobia de compromissos antes que ele lhe parta o coração”…

Alerta, alerta: Não estamos a falar de casamento! Que eu, em boa verdade, quero que se dane o casamento (já tenho a minha dose, obrigada, e mais tarde podemos voltar ao tema, que tem interesse…). Estamos a falar de compromisso ao nível do “relacionamento” definido em traços largos como:

relacionamento

(relacionar + -mento) s. m.

1. Acto! de relacionar ou de se relacionar.

2. Ligação afectiva! ou sexual entre duas pessoas. = relação

e

relacionar
(latim relatio, -onis + -ar) v. tr.

(…)

4. Adquirir relações.

5. Entrar na intimidade de.

Estamos, portanto, a falar da possibilidade de nos relacionarmos com o outro, amorosa e sexualmente, chamemos-lhe namoro, “andar”, enamorarmo-nos, decobrirmo-nos, viver a parte de boa de qualquer relação que aparente ter bons ingredientes (ainda que, num futuro, possa vir a terminar, passando por várias fases, cada uma a seu tempo e com motivos compreendidos por ambas as partes).

Então, que raio quero eu dizer?
Recordam-se daquilo que descrevi da minha “relação surpresa” no outro post?
É disso que estou a falar. E, ao que parece, apesar da estranheza que me causou, a mim, a experiência, o comportamento “do outro” enquadra-se dentro de padrões perfeitamente definidos, tipificados, enfim, diagnosticados em muitas outras pessoas (tradicional e maioritariamente do sexo masculino, mas cada vez mais partilhados por mulheres, o que aliás viria a dar origem a outro livro).

“(…) Todas estas mulheres falavam fundamentalmente da mesma questão: um abandono e uma traição da confiança ocorridos numa relação em que o homem as incentivara a esperar uma carinhosa intimidade.”

“Na realidade, esta obra foi inicialmente intitulada de Síndroma de Houdini, um título sugerido pelo nosso primeiro entrevistado masculino (…)”

“Quando uma mulher se envolve numa relação com um homem que sofre uma transformação que o leva da atenção e afecto ao distanciamento e à crueldade – sem nenhum motivo aparente – não é de surpreender que ela sinta normalmente um trauma profundo.”

“(…) ao escutar todas estas histórias com um certo distanciamento, tornou-se perfeitamente que existia um padrão bastante específico nestes comportamentos, que for a ignorado. Tais homens sofriam de uma reacção claustrofóbica às suas relações. Exteriorizavam a síndroma de luta ou fuga clássica, associada a qualquer reacção fóbica típica. (…) O que parecia incompreensível e totalmente confuso, de súbito encontava uma explicação muito simples. Observar tal padrão ofereceu-nos a possibilidade de dar um nome a esse comportamento – compromissofobia.”

“(…) Mas não é isso que parece, no início. No início da relação, quando olha para ele, você vê um homem que parece necessitar de e desejar amar. A espalhafatosa perseguição e as comoventes demonstrações de vulnerabilidade que ele faz convencem-na de que é “seguro” você corresponder-lhe. Mas assim que o faz, mal se mostra disposta a dar uma hipótese ao amor, assim que chega o momento de a relação evoluir, algo muda. De súbito, o homem começa a fugir, quer seja figurativamente, retraindo-se e provocando discussões, quer literalmente, desaparecendo e nunca mais voltando a telefonar. Seja como for, os seus sonhos ficam desfeitos e a sua auto-estima destruída. O que se passou, o que correu mal, e porque é este cenário tão familiar para tantas mulheres?”

No decorrer do livro aprendemos que existe, então um padrão.

O Padrão dele no amor

Tipicamente a clássica relação compromissofóbica passa por quatro fases distintas e separadas.

1. O Início Perseguição Audaz: tudo em que ele consegue pensar é no quanto deseja tê-la.

Esta fase caracteriza-se pela “venda” concentrada. Ele está obviamente apaixonado por si e tenta com desespero fazê-la sentir o mesmo. Para o conseguir emprega os maiores esforços.

O tempo que o início dura depende do tempo que le leva a “vender-se” e daquilo que ele vê como o ponto de não retorno do compromisso.

Comportamento típico:

– Ele avança em força e está provavelmente mais interessado em si do que você nele.

– Passdo muito pouco tempo ele mostra que a acha “especial” e parece possuir poucas ou nenhumas reservas a seu respeito ou a respeito da decisão de a persegur.

– Ele tem um historial instável com as mulheres mas fá-la pensar que consigo será diferente.

– Ele faz tudo o que pode para impressioná-la: se tiver dinheiro, gastá-lo-á; se possuir talentos especiais, exibi-los-á; se possuir “sensibilidade” ou “profundez emocional”, revelá-la-á.

– Ele parece vulnerável e age como se necessitasse da relação mais do que você.

– Ele indica, por actos ou palavras, que procura uma relação significativa e monogâmica e não apenas um caso superficial.

– Ele está disposto a esforçar-se bastante para ficar consigo e fazer coisas por si, desfazendo outros planos, percorrendo grandes distâncias se necessário, etc.

– Ele telefona-lhe a toda a hora, frequentemente “só para te cumprimentar” ou “só para ouvir a tua voz” ou inunda-a de mensagens.

– Ele inicia abertamente “conversas sobre o futuro”, fazendo planos para coisas que farão os dois juntos. Até pode referir-se aos dois como “nós”.

– Ele age como se você fosse uma prioridade na vida dele.

– Ele parece sensível aos problemas das mulheres e menospreza outros homens desatentos e pouco amáveis para com as mulheres.

– Ele faz tudo o que pode para a convencer a confiar nele – e você acaba por confiar.

– Ele convence-a a fazer um compromisso (emocional e/ou sexual) com ele.

2. A Evolução – Primeiros Rumores de Pânico: ele sabe que a tem e isso assusta-o.

A evolução tem início, habitulmente, quando se dá uma mudança definitiva de poder na relação. Agora você “comprou-o” e ele sente que se espera alguma espécie de compromisso da sua parte. Pela primeira vez na relação ele tem que enfrentar o seu próprio problema de compromisso. Esta fase caracteriza-se pelo conflito e pela dúvida. Você dá-lhe o que ele afirmou desejar mas, em vez de ficar feliz, ele sente-se pressionado e ambivalente. (…) Em algumas relações o pânico do homem é muito intenso; nesse caso esta fase é muito breve e ele, de imediato, segue para o Fim. Noutros casos esta fase arrasta-se interminavelmente, mantedo a relação viva por muitos e meseráveis anos.(…)

Comportamento típico:

– Ele parece estar a recuar, como se algo o assustasse. Poderá não telefonar tantas vezes, não ser tão atencioso, etc.

– Onde as intenções dele outrora eram claras, os seus actos e as suas palavras encontram-se agora plenos de mensagens dúbias.

(…)

3. O Fim: você deseja-o e ele sente-se apavorado.

Não existe melhor forma para resumir a situação do que afirmar que o cmpromissofóbico se encontra “em fuga”. O homem que você conheceu no início desapareceu. Envolveu-se demasiado e tem consciência disso. Pode ter emoções em conflito mas o seu maior impulso é o de fugir. Se tudo começou demasiado depressa, esta fase pode ser alcançada em poucas horas. Há, poré, muitos homens que preferm que seja a mulher a assumir a responsabilidade pela separação; geralmente arrastam o final até que você aja.

Comportamento típico:

– A atitude dele alterou-se quase por completo e ele deixa pistas óbvias de que está prestes a retirar-se.

– Ele passa menos tempos consiggo e não se preocupa em dar-lhe grandes explicações.

– Ele insiste na flexibilidade e no espaço.

– Ele desmarca encontros e altera planos.

– Ele sofre alterações de humor na maior parte do tempo (…)

– Ele ainda a confunde com o que diz e transmite mensagens muito dúbias. Num minuto rejeita-a com crueldade ou procura-lhe defeitos, no minuto seguinte ama-a sentimentalmente ou aprova-a na totalidade.

(…)

4: O Amargo Final – A Grande Evasão: está tudo terminado e você não sabe porquê.

Nesta fase o compromissofóbico tenta negociar um final mas raramente sabe como fazê-lo. Sempre que possível encontrará um modo de deitar as culpas para cima da mulher ou responsabilizá-la. Também poderá hesitar. Porquê? Porque a sua decisão de partir alivia alguma ansiedade e ele poderá começar a sentir novamente algo pela mulher. A confusão dele e a incapacidade de compreender o que está a sentir frequentemente provoca um comportamento que parece estranho (…).

Por norma ele termina a relação numa ou num conjunto de três possíveis formas. Eis como:

Comportamento típico:

– Ele provoca-a para que termine a relação, dando início a uma grande discussão ou entregando-se a um comportamento especialmente ofensivo.

– Ele retira-se tão completamente (poderá até mudar de casa) que a relação morre.

– Ele deixa de telefonar, não retribui as suas chamadas e desaparece totalmente da sua vida, com frequência de uma forma estranha e destrutiva.

Nota:

Quando ele regressa…

Frequentemente tudo o compromissofóbico necessita para aliviar a sua ansiedade é a distância. A relação terminou por isso ele já não se sente assustado. Assim, os sentimentos que nutria por si podem regressar à superfície, nesse ambiente não ameaçador. Não se sentindo já em pânico com a cilada, ele sente saudades suas, por isso telefona (por exemplo). Quando tal acontece, geralmente, desenrola-se o mesmo cenário, de novo. A única diferença é que desta vez é mais rápido. ❞

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“Talvez o mais fascinante sobre o compromissofóbico seja que ele raramente foge ou luta quando a relação é má (daí que algumas vezes consigam manter relações de anos); ele luta ou foge quando a relação é boa. Isto parece contradizer por completo o bom-senso. Uma má relação é algo a combater ou de que fugir; uma boa relação é algo a valorizar e a cultivar – certo? Não para o compromissofóbico. Os seus actos não se regem pelo bom-senso, regem-se pelo seu receio exagerado do compromisso. Por isso quando a relação se torna próxima e íntima, ele sente-se mais encurralado porque sabe porque não tem desculpa para sair. Enquanto a relação for complicada, ele sabe que tem uma desculpa para sair e não existe ameça de cilada.

Misógino ou Compromissofóbico?

É curioso e importante salientar que no passado o homem que ficava e lutava era frequentemente rotulado como misógino – um homem que odeia as mulheres. Mas uma vez que se compreendem as dinâmicas da reacção compromissofóbica, torna-se subitamente claro que este rótulo é totalmente inadequado. Não se trata de um homem que odeie as mulheres, trata-se de um homem que desejaria conseguir amar as mulheres. Mas é vítima do seu receio – um receio que lhe deixa apenas uma de duas alternativas: partir ou lutar.

A reacção compromissofóbica explica também por que motivo tantos destes homens podem ser tão calorosos e afectuosos num momento e tão insultuosos no momento seguinte. Se odiassem realmente as mulheres seriam insultuosos o tempo todo.”
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Enfim, depois de todas estas citações, indiscutivelmente a melhor forma de vos explicar o conceito, remeto-vos/nos para o início do post.

Parece-me agora que na minha vida me cruzei por duas vezes com homens enquadráveis neste “segmento”: recentemente, no aso que vos contei, e há uns cinco anos atrás, num episódio igualmente volátil! Uma pedido de atenção urgente, uma paixão gritante que me desviou de um caminho (amoroso) por onde eu estava enverdar e que exigia uma série de resoluções difíceis, que culminou num aparatoso “nada” quando finalmente seria altura de se consumar! :)

Em ambos os casos fiquei momentaneamente perdida, sem perceber os actos inconsequentes daqueles que me emitiram sinais contraditórios. Felizmente, em ambos os casos, as coisas foram muito intensas e muito rápidas, como um fogo de artifício.

Fosse porque “eles não estavam assim tão interessados” ou porque eram “homens incapazes de amar”, o desfecho foi o mesmo. O motivo pode estar em mim ou nele(s) mas isso não altera o final (embora a versão “compromissofóbico”, ao colocar o “problema” neles, retire de mim o peso da “falha”) . E a reacção inteligente e que preserva a nossa auto-estima, saúde e bem-estar, numa situação com um desfecho destes, deve ser a mesma: deixar de tentar compreender para lá do razoável, aceitar e passar para trás das costas. Porque, na realidade, não augurava nada de bom. :)

Comments
2 Responses to “Agora Escolha, parte II”
  1. por vezes precisamos mesmo de uma leitura “científica” das coisas como elas são! Uma amiga minha está a passar por esta situação precisa: reecaminhei-lhe este post…..

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