Este não é um blog sobre cinema…

Mas já começa a parecer… (não obstante a total parcialidade das apreciações e o pouco domínio técnico e bibliográfico sobre a matéria)
Ontem fui ao cinema (os mais atentos já poderão começar a adivinhar com quem…) ver o Beginners.
O filme é uma colecção de momentos e a estrutura narrativa entrecortada merecia uma maior fluidez para maior desfrute e repouso do espectador (ou meu, pelo menos).
Mas se calhar não devia ter começado por aqui porque não vos queria, de todo, condicionar negativamente.
Beginners é um filme de pequenos apontamentos, um presente assaltado por pretéritos perfeitos e imperfeitos, recordações de infância e de um estado adulto mais recente, sob a perspectiva de um homem de 38 anos (interpretado por Ewan McGregor) cuja relação com os pais (e dos pais!) teve um papel preponderante no entendimento do mundo e dos relacionamentos amorosos (e não tem sempre?). É um homem amoroso, intimamente educado pela mãe (que perde já na idade adulta) e que descobre com espanto a homossexualidade do pai, após a morte da mãe e 44 anos de casamento.
Nos avanços e recuos da acção perde também o pai (também com Cancro) e conhece (mais) uma mulher por quem se apaixona (a belíssima Mélanie Laurent que parece uma mistura de Marion Cotillard com Michelle Pfeiffer). Como ele próprio diz, faz desta relação o que fez das outras: “Com medo que não resulte, certifico-me de que não resulta”. Assim resolve de uma assentada aquilo que teme, sofrendo antecipadamente aquilo que, com sorte, quem sabe, poderia não vir a sofrer! (Quantos de nós somos assim na nossa relação com o medo e aquilo que não dominamos: os outros! Não é verdade?)
Esta narrativa composta de pequenos momentos faz-me pensar nas novas formas de comunicar e nos novos meios de consumo de informação, nomeadamente nos blogues e redes sociais como o Facebook ou o Twitter, em que as mensagens se querem curtas, rápidas e eficazes (porque nós já não somos os mesmos e os nossos cérebros já não processam da mesma maneira os estímulos).
Curiosamente, também toda a estética do filme me recorda os diversos blogues/feeds que sigo diariamente, quer os que estão relacionados com design, quer os que estão ligados a fotografia…. e ainda os de ilustração (a personagem do Ewan McGregor desenha à semelhança de alguns ilustradores que conheço desse mundo virtual). Portanto bate tudo certo. É um filme actual.
Também a abordagem à questão geracional (a nossa vs a dos nosssos pais) está bem feita. E se (e é por aqui que começa o filme) o céu e as estrelas de 1955 são iguais aos de 2003 (ano em que se passa a acção), assim como os animais, a natureza em geral e o aspecto de todas as coisas e pessoas (retratadas nas suas emoções mais primárias) o mesmo não se pode dizer do sentimento genérico, latente, subjacente a cada geração e cada era. As prioridades, os interesses. E como ele tão bem resume: Nunca a geração dos nossos pais sentiu esta tristeza (esta busca interior, esta insatisfação, proporcionada pelo ócio que o desafogo do fim de uma época de grande recessão acarretou) mas, provavelmente, também nunca a mesma profunda e genuína alegria… (isto será tema para outros debates…. :)
Nas recordações dos momentos passados, na infância, com a mãe (delicioso retrato), dei por mim a pensar se também as minhas filhas (em particular a mais velha, prestes a fazer 11 anos) me recordarão assim, em nova, quando eu e/ou elas já formos velhinhas. Aquele deslumbre e assombro aliado ao profundo desconhecimento e incompreensão, numa visão inocente e sedenta de amor e explicações.
De reter também o olhar do Ewan McGregor, o riso que parece arrancar do quase choro da Mélanie Laurent, o delicioso Christopher Plummer e o cão. Aliás, pelo trailler cheguei a temer que a coisa resvalasse pelo lado mais fácil da relação da personagem do Ewan McGregor (homem giro, e tal) com o cão, quando o vi conversar com o seu fiel amigo (o trailler apostava muito nisso)… mas não! Tem graça e é contido (e até pertinente!).
E ainda, que soube – de fonte fidedigna – que a pila do Ewan McGregor é grande e complementa, assim, o quadro do homem ideal… parece que é facilmente comprovável no visionamento deste filme. Ainda não vi mas vou tratar disso.
Na realidade este post podia intitular-se “A Pila do Ewan McGregor” mas talvez fosse um bocadinho redutor. Bem, não sei se “redutor”, pelos vistos, será a expressão mais indicada… :P
Parabéns Lia, adorei a tua “escrita”,desconhecia esse teu estado de alma :) mas digo-te com toda a sinceridade que me é característica :)embalaste-me no inicio e acordaste-me à bruta no fim..Quem é que quer saber de pilas numa altura destas ??? “Usamos e abusamos” do sexo, em conversas, em exigências, em rupturas, para chegarmos à conclusão de que o que todos queremos é ser amados e compreendidos, como somos..Com as nossas ambições,projectos,frustrações e contradições. Certo ??? desculpa se estou mesmo ao lado, mas como isto não é um blog sobre cinema e como ainda me encontro nos quarenta e tal e gosto de ti, quis deixar a minha opinião.bjos Eneida