Marretas – Agora a sério…. (O bom e o mau)

Estava mortinha por ver o novo filme dos Marretas (e estou certa que muitos de vós sentiram/sentirão o mesmo) e esperei que as minhas filhas estivessem comigo para concretizar a ida ao cinema. Fui ver a versão portuguesa, dobrada, por causa da mais nova. A ideia de os ouvir a falar português causa estranheza porque no tempo em que eu era pequena os Marretas viam-se na versão original, com as vozes de origem que serão sempre insubstituíveis. Mas, entretanto, uns anos de Canal Disney já me habituaram à ideia de ver actores de carne e osso dobrados em português (e os Marretas incluem-se facilmente nesta categoria).

Assim que o filme começou assustei-me bastante porque me apercebi que a principal diferença não estava aí…
Os Marretas de quando era pequena – ou resumindo: Os Marretas, ponto!  – tinham uma série de características que o filme só a certa altura assume. Talvez por medo, que hoje em dia o politica/socialmente correcto, principalmente nos EUA, está sujeito a uma série de restrições de Controlo Parental, classificação etária, etc, com base em certas acepções do que é certo ou errado, aceitável ou perigosamente influenciável (independentemente dos estereótipos feminino/masculino e de beleza que continuam a passar em todos os produtos, mesmo os para mais tenra idade…). Ou porque, depois da compra da Jim Henson Company pela Disney, estes últimos tenham decidido encontrar um compromisso que – no seu entender – melhor conviesse aos diferentes públicos, nomeadamente de diferentes faixas etárias.

O certo é que, ao contrário do que acontece principalmente no início do filme, Os Marretas não tinham uma linguagem infantilizada. Os Marretas eram algo violentos, incorrectos, sádicos  q.b. e completamente passados e cheios de vícios dos adultos. Mas ao mesmo tempo inocentes, patetas, muito cómicos e primários. Simples! E este mix explosivo tornava-os irresistíveis. A adultos e crianças. Aos mais pequenos sobretudo porque eram bonecos e bonecos primorosamente feitos e movidos por Jim Henson e companhia.  Mesmo que não percebêssemos palavra, a mímica, o olhar, a expressão e os gags, as quedas, os disparates e a doçura, tomavam-nos e conquistavam-nos para sempre.

Ora, no filme há uma mistura disso com um conceito muito Disney de pôr toda a gente a cantar com sorriso de felicidade mentecapto que só funciona em determinadas animações e musicais, mas ali nem por isso… As cenas iniciais de Jason Segel são, para mim, confrangedoras…
Nem na Rua Sésamo (também criação de Jim Henson) se confundia o público infantil com público mentecapto!.. Portanto, era escusado!…

Quase aposto que se Jim Henson ainda reinasse a Jim Henson Company aquilo não teria acontecido…

Mas nem tudo está perdido!.. Quando  Walter é atirado contra a vedação eléctrica (tentando entrar em casa do Cocas) e quase morre electrocutado eu vejo, finalmente, o espírito Marretas!

E, à medida que mais e mais Marretas se vão juntando, é possível recuperar a alma da coisa! Selvagem, animal, irreverente e descontrolada!
Então o filme oscila entre uma visão censurada da Disney e as bases Jim Hensianas daquelas criaturas. É uma no cravo e outra na ferradura.
Será que me fiz entender?

Ainda assim gostei do filme, por me ter possibilitado um reencontro com esse universo mágico e louco.
E quando, no final, perante o desânimo dos Marretas com a derrota contra o mal, o sapo Cocas abre a porta para uma multidão em êxtase com o seu regresso, não deixei de me sentir profundamente comovida!
E o recordar do genérico de abertura do espectáculo, com todos os Marretas nas galerias, galinhas e pinguins e tudo, soube-me a pouco mas bom!

Dá, por isso, vontade de pedir aos senhores da Disney que agora façam aquilo mas a sério! Ou, por outra, que DEIXEM OS MARRETAS TRABALHAR!!

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2 Responses to “Marretas – Agora a sério…. (O bom e o mau)”
  1. Gostei imenso de ler isto. Estou desejosa de ir ver o filme.

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