Do Primeiro Amor ao Amor Próprio, a dura aprendizagem da auto-preservação.

Un Amour de Jeunesse é um filme tão belo!..
Vi-o ontem e quanto mais o recordo, mais gosto.
É um filme sereno onde, pelo argumento, facilmente se poderia cair no melodrama mas, ao invés, se vão dando pinceladas numa tela maior.
O filme é muito bonito, esteticamente. Mas não cai no absurdo da estética pela estética. Cada paisagem bucólica tem a sua correspondência na alma romântica de Camille e o seu contraponto na arquitectura moderna da Bauhaus. A ver se me explico…
Camille (uma tão linda Lola Créton) tem 15 anos e vive a sua grande paixão adolescente por Sullivan. O seu amor sem limites não encontra reflexo no do rapaz que, para além de prescindir da sua companhia mais do que ela desejaria, embarca numa aventura com amigos rumo à América do Sul, numa viagem com a duração prevista de 10 meses. A rapariga, despedaçada, aceita passivamente esta realidade que lhe é bruscamente imposta e contra a qual nada consegue fazer.
Os meses transformam-se em anos e as cartas de Sullivan, outrora frequentes, deixam de chegar – não sem antes anunciar o fim do relacionamento.
Camille sofre em silêncio, com uma candura comovente, e chega a tentar o suicídio. Um internamento, o apoio da família e anos de vida que decorre, levam-na a sobreviver ao episódio e, pensamos nós, ultrapassar esse amor infrutífero.
A rapariga cresce, torna-se uma jovem mulher cheia de interesses e aptidões (e aquele cabelo curto? Que bonita, que bem que lhe fica!) e dedicada àquela que parece ser agora a sua paixão maior: a Arquitectura.
Anos depois do fim daquele namoro juvenil, depois de se ter mantido sempre sozinha, consegue por fim iniciar outro relacionamento amoroso (desta feita com um seu professor da Faculdade) e julgamos saradas as feridas.
Mas eis que o rapaz volta (digamos antes: ressurge! Que ele já tinha regressado a França mas não a tinha procurado e só o fará porque Camille sugere esse reencontro) e aquilo que tomávamos como certo parece desmoronar-se com uma facilidade desconcertante…
Camille parece sucumbir ao mesmo equívoco da juventude: um amor idealizado mas não real.
E aqui tememos o pior (eu já estava enervadíssima, apesar da placidez do retrato): que Camille deite a perder a robustez com que tão duramente conseguiu revestir os seus sentimentos, a auto-estima que foi conseguindo alcançar e a saúde e equilíbrio que pareciam ter vindo para ficar depois de um processo de crescimento tão demorado e doloroso.
No entanto há um claro-escuro, entre as trevas e a claridade, um limbo, onde Camille (talvez involuntariamente) permanece, que a salva enquanto Sullivan revela novamente as suas cores, a matéria de que é feito.
E a vida segue o seu curso, que aliás já tinha começado, e é como se todo este novo episódio não tivesse passado de uma maré do Loir, à beira do qual se passam algumas cenas deste filme, como que numa suspensão, por oposição às de Paris onde a vida do dia-a-dia decorre.
Ficamos felizes por Camille a cujo sofrimento assistimos impotentes, encontrando justiça nesse desfecho que a preserva de outro bem mais trágico.
É um filme sobre crescimento, amor, entrega. E sobre a importância da auto-preservação no nosso próprio salvamento. Não há amor como o amor próprio.
Também a música do filme é bonita e a selecção é bastante eclética!
Mas eu, talvez por conhecer algumas das outras (da Violeta Parra, por exemplo) fiquei encantada foi com esta: