A Nós os Estímulos!


Em cima foto de Ellen Von Unwerth utilizada no outro dia no FB para divulgar o cartaz da festa de 26 de Dezembro do Lux; em baixo, publicidade antiga, hoje reconhecidamente sexista.
Amanhã vou ver se ainda consigo vir aqui deixar-vos uma Gift List. Já não vão ter tempo de comprar nada daquilo antecipadamente, para oferecer no Natal, por isso vai ser uma lista para oferecerem a vós próprios, a partir de dia 26, com dinheirinho que tenham recebido, se ainda houver disso! :)
E não querendo estar sempre a bater no ceguinho, ou na mesma tecla, eu bem tento ficar quieta, com medo de vos enjoar. Mas, que fazer? Não param de me bater a mim…
A imagem que aí vêem acima é um combinado. Podia ser uma daquelas “antes e depois”, mas por ordem inversa.
A fotografia de baixo é de uma publicidade “vintage”, hoje em dia reconhecidamente sexista. Pitoresca, diz-se por aí.
Há listas, por essa internet fora, de publicidades antigas “que hoje seriam banidas”.
Olhando para as de hoje eu pergunto: seriam?
A fotografia de cima (da Ellen Von Unwerth, tem muitas assim, é a especialidade) circulava no outro dia no FB para anunciar o cartaz da festa de Natal do Lux Frágil, dia 26 (o Natal dos moderninhos. Ou serão pós-moderninhos?), com destaque para a muy sexy Nina Kraviz como DJ. Foi no FB que a vi (claro, a utilização oficial estaria sujeita a direitos de autor), mas basta espreitar o site para perceber como homens e mulheres DJ se apresentam de diferentes modos.
Foi no FB que a vi, dizia eu, e garanto-vos (não será preciso dar garantias, acho que podem imaginar) que não faltavam comentários entusiasmados com a “marotice”. Comentários de homens e de mulheres.
É que as meninas moderninhas, as mulheres emancipadas de hoje, correm a Likar, a mostrar que também gostam, estão coniventes e disponíveis com aquilo que lhes quiserem dar! Aliás, quanto mais participativas e colaborantes, melhor. Tudo em liberdade.
Pelo meio destas duas imagens houve, supostamente, a revolução sexual. O Feminismo (o papão!) com que todas crescemos.
Quem diria, não?
Ah, evoluímos tanto!
Que fraca espécie somos para tanta evolução!
Nos anos 50 as senhoras eram animaizinhos amestrados dos maridos, sempre bonitas, servis.
Depois veio a revolução sexual nos anos 70 e, pasme-se, de há uns anos para cá, depois dos dos anos 80 e 90, com a internet, a explosão dos mass media, etc., as senhoras passaram a ser mais ou menos a mesma coisa mas com actividades laborais e necessidade de uma carga erótica muito maior.
Esta coisa da realidade virtual tornou-se numa realidade aumentada.
As pessoas precisam de ser estimuladas. Sexualmente, visualmente, constantemente.
Nada chega, tudo é demais e tudo é demenos.
E as pessoas precisam de ser vistas. De se expor, de se apimentar.
De participar nos reality shows, de ganhar a fama. É um mundo de espectáculo, mesmo quando não é.
De se mostrar no FB, nos blogues, de publicar fotografias sexy.
Sexy, sexy, sexiness. All is sexiness.
O poder de estimular (os outros) é o poder de controlar e criar no outro um interesse, mesmo que seja virtual.
Gente moderninha, com alguma valência intelectual, tem que apimentar e piscar o olho à líbido. Nos blogues ou na televisão.
No cinema, de repente, há uma euforia sexual pelo explícito. E vai tudo a correr.
Tudo a ver o que ainda ninguém tinha ousado fora do porno.
Mas o porno está em todo o lado e nada basta.
As pessoas estão em desiquilíbrio, mal amadas.
E assim continuarão porque os estímulos que procuram e obtêm não vêm da vida real e continuarão a não satisfazer ninguém.
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Hoje, enquanto estava parada num semáforo, olhava uma mulher, normal, na rua.
Arranjada, cabelos longos de madeixas loiras, corpo voluptuoso, caminhava nuns saltos muito altos (também eles usuais, hoje em dia) e plataformas, acompanhando sorridente dois homens de fato (fato na antiga grafia). Um deles gesticulava enquanto conversava animadamente, dirigindo-se ao outro.
Ela mantinha o sorriso mas estava claramente mais concentrada em cada passo que dava. Não dialogava. A grande preocupação era manter a postura durante o equilibrismo.
Eu olhava a cena e não podia deixar de pensar que ainda se acha normal tudo aquilo. Ou cada vez mais…
Que a mulher tente acompanhar os seus pares masculinos procurando ao mesmo tempo ser sexy a qualquer custo, parecer (ser) desejável segundo os padrões estabelecidos e, claro, estar sujeita ao escrutínio de todos. Qualquer mulher comum.
Como cada mulher que participe na política, nos Mass Media, etc.. Nem toda a gente sabe o que diz mas toda a gente repara no seu aspecto. Roupa, cabelo e, acima de tudo, se é sexy ou não.
Não pensem, pelas fotos ilustrativas deste post, que isto é um problema só da publicidade. Não é.
Mas pronto, não vos chateio mais. Faz de conta que vou ali tomar um comprimido.
(Deixo-vos aqui umas imagens demonstrativas da grande evolução que sofremos…
Grande, hã?)
Comments
3 Responses to “A Nós os Estímulos!”Trackbacks
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[…] onde tentava explicar que qualquer dia não há quem saiba construir pontes, por exemplo, e o post do outro dia (um deles) – está tudo ligado, tudo ligado….), uma das sugestões que aqui deixo é […]
Brilhante!
Que bom não ser a única a reparar na escravidão das mulheres de sapatos altos na calçada mantendo equilibrismo e sexiness junto dos seus iguais, os homens!… Continua a falar disto, Lia, por favor.