José, Pilar e o Amor.

Ontem iniciou-se, e muito bem, o CineConchas 2011. A iniciativa vai já na 4ª edição e tem uma boa selecção de filmes em cartaz*.
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*Único reparo: “O Segredo dos Seus Olhos” é um grande, belíssimo filme, mas não é – na nossa opinião – filme para exibir naquelas circunstâncias… embora tenha a classificação etária de M/16Q impressa no programa, qualquer espectador desprevenido (e parece-nos que pode haver vários, com crianças até, quem sabe) é confrontado com um filme (muito bom mas) com cenas de incrível e crua violência, física e psicológica… a começar logo na primeira (que a mim me apanhou tão de surpresa, quando o vi, que foi um enormíssimo murro no estômago). Com mais facilidade se exibiria e geriria ali um típico filme de terror do que aquele thriller, mas enfim, é só uma opinião no que diz respeito à escolha do programador.
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José e Pilar iniciou a programação deste ano e foi, para esta que vos fala e que ainda não tinha visto o filme, uma bela surpresa. (Aqui poderão visitar o óptimo website do filme, com uma bonita introdução.)
O filme é uma longa metragem documental sobre a relação de José Saramago e Pilar del Rio, o escritor português galardoado com o Nobel e a sua mulher espanhola, jornalista de profissão, que gere a sua intensa vida pública e social.
Acompanhamos de forma cronológica vários momentos dos últimos anos de vida de José Saramago, as inúmeras viagens do casal e o ritmo absolutamente frenético e surpreendente dos seus dias, entre vários pontos do planeta. As infindáveis apresentações, palestras, sessões de autógrafos, etc., a entrega com que ambos se dedicam aos eventos para que José Saramago é solicitado. E assistimos ao encaixe perfeito das duas personalidades, ao amor e companheirismo dos dois.
O registo é extramente intimista e, vendo esta entrevista com o realizador (e ainda esta com Pilar), percebe-se que, ao longo de 4 anos de filmagens do casal na sua rotina diária, muitas vezes José e Pilar se devem ter esquecido da presença do realizador e da câmara.
O resultado é delicioso e surpreendente. É comovente e belo esse amor, essa partilha. E inesperado o humor, a ironia, a lucidez e a alegria com que Saramago lida com a vida, a ideia da morte, Deus, o mundo, a sociedade, o quotidiano ou as grandes questões filosóficas.
É mesmo um filme divertidíssimo, que soltou por diversas vezes as gargalhadas no público que esteve ontem na Quinta das Conhas, no Lumiar, não obstante os momentos de comoção. A exibição terminou com aplausos, julgo que em parte pelo evento mas na sua maioria pelo conteúdo: as extraordinárias personalidades retratadas e a sua atitude perante a vida.
Um filme a ver, sem margem para dúvidas!
E um retrato do amor que ainda consegue alentar os mais descrentes, como eu, que julgo nunca ter assistido a nada assim… (bem, talvez em Braga, num casal amigo, agora que penso… mas não mais.)
O Dvd encontra-se à venda, caso não consigam vê-lo nalguma exibição pública. E vale a pena. Vale muito a pena.