Ponham-me este filme!






Comecemos por aqui:

❝Atenção rapazes. Melodrama bem carpinteirado à mercê de todos. Quem vos avisa, populista sentimental é. Avancemos por estereótipos. Não um desses filmes de pancada estúpidos que vocês não lhes conseguem impingir. Não uma dessas estúpidas comédias românticas que elas vos impingem. Aqui há possibilidade de acordo. De encontro. E rapazes, vocês terão apenas de ceder um bocadinho para se verem recompensados. Quem sabe melhor até após o final da sessão.
Falo-vos de Mother and Child/Mães e Filhas, cujo título e o cartaz podiam dificilmente ser mais dissuasores. Pensem comigo (como eu pensei anter de ir ver o filme). Tem a Naomi Watts. Tem a Naomi Watts. Tem a Naomi Watts. Tem um brevíssimo full frontal da Naomi Watts e não fui eu que vos disse. Até não é o mais relevante. Foquem-se na seriedade e justeza da caracterização de um tempo, o nosso tempo, em que as mulheres nos jogam e em que somos consequentemente jogados por elas. Até de um full frontal vem sempre uma subjugação. Ela (Elizabeth/Naomi Watts) é um bloco de gelo e quem se derrete somos nós. Quanta injustiça. Não há ciência que explique isto, nem marmanjo que aprenda a lição. Adiante. As mulheres querem engravidar. As mulheres não querem engravidar. Os homens engravidam da paciência com as indecisões das respectivas. Há personagens que são descritas em duas ou três pinceladas, como passámos a ver menos desde que Lawrence Kasdan e James L. Brooks se tornaram cineastas bissextos.
Mother and Child/Mães e Filhas remete para esse saber fazer da escrita e concretização de dramas adultos de que a televisão se passou a ocupar por demissão do cinema, e é também um filme mosaico. Tudo óptimo com as cores do mosaico: frias, cínicas, realistas. A princípio. Pior depois quando é preciso encaixar todas as peças, sem esquecer a fórmula da retribuição que um argumentista que sabe que são as mulheres que decidem na fila do cinema deve dominar. Os rapazes, se tiverem juízo, e até porque já tiveram direito a dois terços de drama enxuto e realista, coroado com as diabruras da deusa Naomi, aguentam até ao fim, e fornecem o providencial lencinho. E aplaudem o temperamento excessivo do sexo oposto. Que actriz sublime é Annette Bening. Todos estes anos depois ninguém terá coragem de lhe pedir um full frontal, mas o modo como ela se desfaz e refaz emocionalmente neste filme de Rodrigo García é a exposição mais desnudada de todas. O populista sentimental curva-se e cala-se.❞

Quem o diz é Ricardo Gross, um dos > de 30 linkados aqui ao lado (na barra lateral).

O Ricardo Gross é um rapaz engraçado, pesquisem pelos vossos próprios meios, já que o link está à disposição. Entre as muitas apreciações que tece sobre música, algumas sobre futebol e algumas outras sobre múltiplos assuntos, desbravamos também a partilha que nos faz das imagens que encontra e que lhe agradam de mulheres tatuadas, um dos fétiches mais recentes (ou nem tanto). :)

Mas agora passemos ao motivo pelo qual vos escrevo este post depois de ter chorado baba e ranho.

O que o Ricardo diz, diz muito bem. Os motivos são mais do que suficientes, para verem o filme, e a mim fizeram-me ir a correr vê-lo (ou optar por este em vez de outros). Aquilo que vos direi, espero que não vos desmotive, mas penso que devo acrescentá-lo. Afinal, rapazes e raparigas, eu estou do lado das que precisam do providencial lencinho.

O filme tem a Naomi Watts. Tem uma bela, belíssima Naomi Watts. Tem um breve nu frontal – e também não fui eu que vos disse – da Naomi Watts e tem uma Naomi Watts por quem o tempo começa a passar, o que a torna “etereamente” humana, carnal e quase palpável (crédito à fotografia).

E o filme tem a Annette Bening. E a Annette Bening, e a Annette Bening, e a Annette Bening. E “que actriz sublime é a Annette Bening”.

O filme tem igualmente um Samuel L. Jackson escolhido a dedo e, como sempre, bom.

Mas este é, de facto, um filme de mulheres e nisso nome não induz em erro. Mas, mais do que um filme sobre relações entre mães e filhas, é um filme sobre decisões para a vida.

Um filme de mulheres, de escolhas e de vidas que para sempre seguem ligadas às opções que, um dia, se tomaram.

E é um filme sobre solidão, liberdade e dor. E amor.

E digo-vos eu, é um filme a ver naqueles dias em que, cansadas, questionamos tudo, tudo, até o que de mais profundo nos move, porque nos aconteceu ou porque o decidimos para as nossas vidas.
Aconteceu-me a mim. E enquanto chorei alto e solucei, reposicionei muitas coisas, relativizei com superlativa facilidade o que me andava a desfocar a vista, e voltei a concentrar-me no essencial.

E o Ricardo tem razão. São as mulheres que decidem engravidar, que querem, não querem, escolhem. E, em última instância, são as mulheres que engravidam. Ponto.

Mães e Filhas

Título original: Mother and Child
De: Rodrigo García
Com:Naomi Watts, Annette Bening, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Jimmy Smits
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2009, Cores, 127 min.
Comments
4 Responses to “Ponham-me este filme!”
  1. Sandra diz:

    Obrigada pela partilha! Fiquei com vontade de o ver.
    (vou partilhar)

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  1. […] passassem no teste e, para além de me ocorrer o Bridesmaids e o The Help, de que falam no vídeo, ocorreu-me este… será que passava no teste? Julgo que sim. Vem-me logo à cabeça a cena do terraço… […]



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