What Just Happened – com algum atraso

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A 14 de Janeiro acordei com a notícia de que Lena Dunham tinha acumulado dois prémios nos Golden Globe Awards: o de Melhor Actriz de Comédia ou Musical (TV) e o de Melhor série de TV nas mesmas categorias, com GIRLS, série de que é autora, realizadora, produtora, para além de vestir a pele de Hannah Horvath, a personagem principal. Fiquei muito, mas muito, contente (se nos seguem no FB devem ter percebido) e o(s) discurso(s) da Jodie Foster, em paralelo, também ajudou(aram).
Os prémios foram atribuídos nas vésperas (ou no próprio dia?) da estreia da segunda temporada da série, premiando assim a primeira.
Mas, igualmente relevante, caíram que nem pérolas num momento em que La Dunham vinha sendo repetidas vezes criticada (neste caso eu diria mesmo “atacada”) por ousar exibir  seu corpo-nada-Danone (perdoem-me a publicidade). Espreitem, por exemplo, aqui e aqui (embora posteriormente o Howard Stern tenha vindo a público apresentar uma extensa explicação para o sucedido e um pedido de desculpa).
Entre o público de GIRLS há os entusiastas e – haverá certamente outros grupos – os que detestam, entre outras coisas,  a visão do corpo nu de Lena Dunham.
Há quem se sinta agredido pela imagem de um corpo não estereotipado (de acordo com os padrões de beleza amplamente disseminados nas últimas décadas), quem não queira, portanto, ver na televisão um corpo normal, de uma mulher comum, numa das suas múltiplas variantes não retocadas pelo bisturi ou photoshop. Assim como há, à semelhança do que se passa com a cultura e os mass-media, no geral, quem julgue pertinente criticar figuras públicas, políticas (caso Hillary Clinton, por exemplo) ou de outras áreas de actuação, pelo seu aspecto, uso ou não de maquilhagem, etc., etc., classificando-as como “muito feias para aparecer na televisão” e tomando esse como um critério plausível de classificação/selecção.
Mas se a Lena Dunham é corajosa para aparecer numa entrega de prémios com uns micro-calções que mostrem as suas pernas tal como elas são, mais fácil se torna mostrar e voltar a mostrar a nudez real através de Hannah. E o que na primeira série eram apontamentos em luz moderada passou a ostensivo na segunda temporada. E ainda bem.

Não é só o corpo que deve ser visto e revisto de modo a que recuperemos a familiaridade com uma imagem verdadeira.
O sexo, as expectativas e os relacionamentos também são chocalhados em GIRLS e o que cai são anos e anos de concepções erradas incutidas desde a mais tenra idade nas cabeças de homens e mulheres. E volto a dizer que o que me parece fantástico é que esta clareza surja em tão tenra idade como a de Lena. Aquilo que ela reconhece na vivência dos 20 e tal anos, eu só consegui diagnosticar lá para os trinta e picos. E o caminho foi penoso.

A segunda temporada decorre já nos EUA com a garantia de que se seguirá uma terceira e eis que, depois de um magnífico 4º episódio onde todos os relacionamentos são questionados, há sofrimento e crescimento partout, surge o 5º episódio – como um capítulo isolado, aliás com um realizador convidado – onde a acção quase não se estende para lá do que sucede a Hannah. E o que acontece é que Hannah, a pobre Hannah, se envolve fugazmente com um homem até então desconhecido, mais velho, muito bonito (Patrick Wilson, quase Ken, criteriosamente escolhido) e experimenta, num par de dias, uma relação diametralmente oposta às que vinha desenvolvendo com Adam ou outros namorados ou casos passageiros.

Neste encontro, não só o sexo é gratificante (e Hannah ousa pedi-lo) como tudo se desencadeia num ambiente sereno e agradável, longe da turbulência a que a rapariga se vinha habituando, e – pasme-se – com delicadeza!
Daí decorre que – para mim o mais importante – mesmo perante a volatilidade da relação, Hannah se aperceba que lhe é permitido esperar mais e melhor.
É um ponto de viragem, descobrir que se pode e deve reivindicar para si o prazer e bons tratos. E que é permitido sonhar e ambicionar para além das fronteiras que teimam em gritar que não.

Mais, sobre esse episódio da série, aqui e aqui.

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Comments
2 Responses to “What Just Happened – com algum atraso”
  1. são joão diz:

    O teu entusiasmo a falar desta série deixa-me com vontade de a tentar ver de novo, porque, confesso, ao fim dos 3 primeiros episódios desisti. Achei as conversas e as atitudes delas tão displicentes, tão convencidas, tão enjoadas, que não consegui relacionar-me com as personagens. Achei a estética da série muito interessante, bem como aquilo que referes, o de serem pessoas reais com corpos reais, mas o conteúdo das conversas e das personagens pareceu-me fraquinho. Mas depois leio-te com tanto prazer, com tanto entusiasmo que gostava de conseguir ver na série aquilo que tu vês. Acho que vou dar o benefício da dúvida e tentar ver mais 1 ou 2 episódios. Só por tua causa ;)

    • 30 e picos diz:

      Oh São João! Que comentário mais querido! :)

      Eu lembro-me de ter lido que não gostaste. E até pode dar-se o caso de não gostares mesmo depois da segunda tentativa, sei lá…
      Acho que (não sendo isto nada de inovador) é importante separar as personagens do resto e, no caso, a Hannah da Dunham. A personagem é muito cheia de defeitos e não faltam motivos para implicarmos com ela. Assim como as outras. A Marnie, por exemplo.
      Mas entretanto, para além do facto de revelarem também as suas fragilidades, tudo vai sendo questionado. Tudo o que normalmente não é. E isso delicia-me.
      E espanta-me a noção que a Lena Dunham já tem de tantas coisas às vezes tão difíceis de enquadrar. Se eu já me sinto privilegiada por me ter apercebido delas aos trinta e tal, também observo que há quem avance na idade sem nunca se ter apercebido de uma série de falácias que induzem em erro, nos conduzem a sofrimento e frustração…
      Houve um episódio da 2ª temporada de que gostei menos. Acho que foi o terceiro. De resto tenho vindo a adorar. Talvez hoje ainda veja o sétimo. :)
      Beijinhos e obrigada!

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