Há esperança

Antes de mais, e mais uma vez, ocorre-me perguntar “que se passa com a promoção dos filmes” em Portugal (nos EUA já nem quero saber)?! Eu não sei bem qual será a lógica da coisa… talvez um cartaz com Meryl Streep + Tommy Lee Jones + Steve Carell baste para levar vários públicos às salas. Talvez seja isso. A mim bastou… mas fui desconfiada! Suspeitando que o filme fosse fraquinho e que, apesar de retirar sempre o maior prazer de ver bom trabalho de actores, o filme não bastasse. E ocorre-me que quem possa suspeitar do mesmo opte por não ir, o que seria uma pena. (Os filmes do Judd Apatow, de uma forma geral, veja-se por exemplo o Knocked Up, são apresentados ao espectador como filmes para pessoas com problemas cognitivos, grotescas ou de gosto muito duvidoso… e não deveriam porque estão longe disso!)
Qual será a táctica? Conta-se com que o público mais atento saiba o que esperar e pretende-se levar novos públicos? Tenta-se conquistar quem só lá vai com brejeirice e depois pode ser que afinal até goste?! É a educação pelo engano e à força?!
Corre-se o risco de afastar gente que teria certamente prazer no visionamento de certos filmes e faria, por si só, a melhor divulgação possível: a de passar palavra pela experiência positiva. Digo eu, não sei, é uma opinião (mas fico sempre a pensar que raio?).

Mas, bem, Hope Springs / Terapia a Dois, não é nada fraquinho, bem longe disso.
Logo para arranque, e como seria de esperar – sem que no entanto caiam em algum tipo de comodismo – os actores estão soberbos. A Meryl Streep é provavelmente o maior actor vivo, como dizia o McKee. E é. O Steve Carell permanece numa sobriedade impecável, oferece o brilho aos outros dois e isso não é fácil de se fazer, cá para mim, e é bonito e subtil. Por fim, o Tommy Lee Jones, que me habituei a ver sempre como o “duro”, o polícia que anda atrás do fugitivo, o militar experiente, etc., tem aqui um papel que o expõe numa fragilidade que nem todos estariam à altura de conseguir.
Os actores e o realizador embarcam numa aventura de coragem como raras vezes se vê no cinema. Se os temas já são difíceis mas ainda assim possíveis de contornar numa comédia romântica, então aqui o argumento ajuda-os a enveredar por uma abordagem menos soft.
Todos são postos em causa, e os seus dogmas. Mas nós também! :)

Um casal de babyboomers, com trinta-e-qualquer-coisa anos de casamento, recorre a um terapeuta de casais porque ela assim o desejou e ele se sentiu obrigado. Adivinhar-se-ia uma série de peripécias cómicas quando o terapeuta (Steve Carell) lhes atribui tarefas, trabalhos de casa, no sentido de recuperar intimidade e desejo há muito perdidos. Mas, apesar de existir um tom cómico que aligeira as situações, a verdade é que o constrangimento do casal, de cada um nas suas motivações, trespassam a tela e nos chegam com uma acutilância que não esperávamos! Ainda por cima sem filtros ou blurs que suavizem as marcas de envelhecimento de cada um dos actores/personagens. A certa altura ocorreu-me que num mundo tão pop, haverá muita gente chocada com os grades planos aos actores e que achará grotesco espreitar a intimidade e o prazer de maiores de 25…

Damos por nós a vê-los falar de desejos sexuais reprimidos, a ver Kay (Meryl Streep), mulher de meia-idade, a tentar ultrapassar as inibições que sente com o sexo oral, a testemunhar as dificuldades de Arnold (Tommy Lee Jones) em reacender o desejo que há muito teve que reprimir… Sentimos-lhes a dificuldade no toque, no abraço e não ficamos assim tão em paz com isso.
O filme é bom porque incómodo q.b. e actores disponíveis para aquilo só mesmo quando são muito bons.
Vão ver, vão ver!!
Abraços! :)

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  1. […] última imagem desafiadora de uma mulher a segurar lasciva uma banana foi a de Meryl Streep em Hope Springs. Fora isso, quê? A Lolita com o chupa-chupa? A de 1962, […]



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