A tristeza e a gravidade

(Post com delay (atraso!*) de cerca de 18 dias, mais coisa, menos coisa)

Longe do elogio da tristeza de bloggers e poetas bucólicos/ românticos. Da apologia da tristeza, da melancolia.
É tudo muito bonito, excepto quando provoca sofrimento e se insiste nessa espiral centrípeta.

Lembro-me de quando, há uns anos atrás (tudo agora parece tão distante), num momento particularmente difícil e depois de iniciar um tratamento com anti-depressivos, deixei de desesperar. Houve um momento de apreciação da tristeza serena. Durou pouco porque, então, parti para uma certa euforia que me é natural mas que não reconhecia em mim há muito tempo.

Noto que a passagem pela tristeza torna mais bela e comovente a alegria e a simplicidade da vida.

A música “Estou Triste” do último álbum de Caetano Veloso (depois dos últimos álbuns catárticos e estranhos – no sentido de “corpo estranho”) tem essa beleza do Caetano de sempre e a serenidade contemplativa de uma tristeza profunda que talvez tenha passado, ainda que, e sempre, deixe marcas.

É esse, julgo, o sentimento comum a todo o disco. Depois da mágoa, da raiva e do nojo, fundiram-se os sentimentos que restaram, desgastados e vividos, com os que vinham, de sempre, elementares e estruturais, da pessoa.

Porque a tristeza terá, como (única) utilidade prática e proveitosa, a possibilidade de ser reconhecida e evitada nos seus mecanismos (alguns mais evidentes, outros mais obscuros).

Não teremos o ideal domínio sobre o nosso destino ou estados de espírito mas, passar por esses territórios áridos, e reconhecê-los, pode levar a que nos joguemos apenas de precipícios em que não vislumbramos o chão duro, independentemente da velocidade da queda.

A atracção gravítica é uma constante.

* aquilo foi uma piscadela de olho. :)

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Extras: Aqui fica outra música do mesmo álbum, com um vídeo muito bonito:

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  1. […] e pegando com o último post, deixo-vos uma gracinha. Talvez apenas um fogo-fátuo de um blogue que estava morto mas que hoje […]



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